quinta-feira, 26 de abril de 2012

Assistência de Enfermagem ao Paciente com Insuficiência Renal Crônica



Assistência de Enfermagem ao Paciente com Insuficiência Renal Crônica

Introdução

A Insuficiência Renal Crónica (IRC) é uma perda gradual, progressiva e irreversível da função renal, que termina fatalmente em uremia (um excesso de ureia e outros produtos de desgaste nitrogenados no sangue) indicando a necessidade de uma terapêutica denominada hemodiálise.

A hemodiálise consiste na filtração do sangue, através de uma membrana semipermeável, onde ocorre a eliminação dos excretos metabólicos do sangue. O sangue sai do corpo do paciente, passa para o dialisador, onde é depurado e em seguida retorna ao paciente. O que garante a diálise é a diferença dos gradientes de concentração entre a solução dialisadora e o sangue, pois algumas substâncias da solução dialisadora passa para o sangue e os metabólitos da sangue passa para a solução.

As doenças que predispõem a IRC são Diabetes Mellitus (DM), Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e as repetidas infecções urinárias.

A DM é uma doença metabólica caracterizada por níveis elevados de glicose no sangue (hiperglicemia), decorrentes de defeitos na secreção e/ou na ação da insulina, que é um hormônio produzido pelo pâncreas, que tem a função de controlar o nível de glicose no sangue, controlando a produção armazenamento de glicose

A IRC acarreta vários problemas à vida do paciente, de seus familiares e da comunidade, por ser uma doença com tratamento difícil e contínuo o paciente sofre alterações psicológicas, físicas e socioeconômica, uma vez que esta enfermidade que altera o cotidiano do paciente que a vivencia.

Manifestações clínicas do paciente renal crônico

O paciente com IRC pode apresentar: anorexia, náuseas, vômitos, distúrbio hidroeletrolítico (geralmente retenção de sais e água, mas pode ser por perda de sódio com desidratação), hipertensão, edema pulmonar, derrames pleurais, fadiga, distúrbios do sono, cefaléia, letargia, irritabilidade muscular, neuropatia periférica, convulsões, coma, intolerância à glicose, diminuição da libido, impotência, amenorréia, acidose, hipocalemia, hipermagnesemia, hipocalcemia, palidez, hiperpigmentação, prurido, equimose, anemia, defeitos na qualidade das plaquetas, tendências aumentadas de sangramento, alterações da personalidade e do comportamento, alterações dos processos cognitivos, edema.

Papel do Enfermeiro

O enfermeiro tem um papel importantíssimo no cuidado do paciente renal crônico, e um dos pontos chave é o incentivo ao autocuidado, de modo a facilitar a cooperação e adesão do paciente ao tratamento, além de estimulá-lo a enfrentar as mudanças cotidianas e a alcançar o seu bem-estar.

E a partir desse princípio temos como ferramenta de trabalho Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), que é um dos meios que o enfermeiro aplica os seus conhecimentos para a assistência ao paciente e define o seu papel. Alem de colaborar para a organização, o direcionamento do trabalho do enfermeiro e para um melhor relacionamento deste com o paciente, uma vez que a aplicação da SAE nos aproxima deste paciente e, portanto nos proporciona um cuidado humanizado, individual, coerente, sistematizado e de qualidade.

Estudos apontam que a assistência de enfermagem ao paciente com IRC deve ter como foco principal a orientação/educação, pois esta ocorre de forma permanente nos centros de hemodiálise a cada encontro no momento das sessões de diálise. Importante ressaltar que os desafios nesse processo educacional deve estar voltado para a adesão ao tratamento, pela indispensável mudança nos hábitos de vida deste paciente.

Possíveis Diagnósticos de Enfermagem do Paciente com IRC

·         Eliminação urinária prejudicada
·         Dor crônica
·         Padrão de sono prejudicado
·         Intolerância a atividade
·         Risco para mobilidade física prejudicada
·         Estilo de vida sedentário
·         Excesso de volume de líquido, devido ao processo patológico.
·         Nutrição alterada (inferior às exigências corporais), devida a anorexia, náuseas, vômitos e dieta restritiva.
·         Integridade da pele prejudicada, devido ao congelamento urémico e alterações nas glândulas oleosas e sudoríparas.
·         Constipação devido à restrição de líquidos e ingestão de agentes fixadores de fosfato.
·         Risco de lesão ao deambular, devido ao potencial de fraturas e câimbras musculares, relacionado à deficiência de cálcio.
·         Não-aceitação do esquema terapêutico, devida às restrições impostas pela IRC e seu tratamento.

Intervenções de Enfermagem 

·         Manter o equilíbrio hidroelectrolítico.
·         Manter o estado nutricional adequado.
·         Manter a integridade cutânea.
·         Manter a pele limpa e hidratada
·         Aplicar pomadas ou cremes para o conforto e para aliviar o prurido.
·         Administrar medicamentos para o alívio do prurido, quando indicado.
·         Evitar a constipação.
·         Estimular dieta rica em fibras lembrando-se do teor de potássio de algumas frutas e vegetais.
·         Estimular a atividade conforme a tolerância.
·         Administrar analgésicos conforme prescrito,
·         Proporcionar massagem para as caimbras musculares intensas.
·         Evitar a imobilização porque ela aumenta a desmineralização óssea.
·         Administrar medicamentos conforme prescrito.
·         Aumentar a compreensão e a aceitação do esquema de tratamento.
·         Preparar o paciente para diálise ou transplante renal.
·         Oferecer esperança de acordo com a realidade.
·         Avaliar o conhecimento do paciente a respeito do esquema terapêutico, bem como as complicações e temores.
·         Explorar alternativas que possam reduzir ou eliminar os efeitos colaterais do tratamento.
·         Ajustar o esquema de tal modo que se possa conseguir o repouso após a diálise.
·         Oferecer pequenas refeições a cada 3 horas com a finalidade de reduzir as náuseas e facilitar a administração de medicamentos.
·         Estimular o reforço para o sistema de apoio social e mecanismos de adaptação para diminuir o impacto do stress da doença renal crônica.
·         Fornecer indicações de assistência social e apoio da psicologia.
·         Discutir as opções da psicoterapia de apoio para a depressão.
·         Encorajar e possibilitar que o paciente tome certas decisões.

Conclusão

A assistência de enfermagem com fundamento na SAE é um instrumento científico que orienta a prática do enfermeiro e de toda sua equipe, sendo de extrema importância para que o cuidado do paciente renal crônico, pois esta possibilita ao profissional enfermeiro a identificação dos problemas, formulação dos diagnósticos de enfermagem de forma precisa, o planejamento adequado das intervenções de enfermagem e avaliação diária das intervenções desempenhadas, possibilitando uma recuperação e reabilitação adequada do paciente com IRC.

Este instrumento de trabalho, ainda que negligenciado por muitos, facilita o trabalho do enfermeiro nos centros de terapia renal substitutivas, pois fornece ao profissional um respaldo das ações desenvolvidas, uma proximidade com os pacientes e seus familiares, com a equipe técnica de enfermagem que utiliza as prescrições de enfermagem como um roteiro para a prestação de um cuidado individualizado, humanizado e de qualidade, além de estreitar o laço profissional ou seja a comunicação com os demais membros da equipe multidisciplinar.


Referências bibliográficas

·         RAMOS, Islane Costa; CHAGAS, Natália Rocha; FREITAS, Maria Célia de; MONTEIRO, Ana Ruth Macêdo; LEITE, Ana Claudia de Souza. A teoria de orem e o cuidado a paciente renal crônico. Revista de Enfermagem UERJ, Rio de Janeiro, abril/junho 2007.

·         OLIVEIRA, Sandra Mara de; RIBEIRO, Rita de Cássia Helú Mendonça; RIBEIRO, Daniele Fávaro; LIMA, Lidmara Copoono Erdosi Quintino de; PINTO, Maria Helena; POLLETI, Nadia Antonia Aparecida. Elaboração de um instrumento da assistência de enfermagem na unidade de hemodiálise. Acta Paul Enferm 2008 -21. Edição especial.

·         MASCARENHAS, Nildo Batista; PEREIRA, Álvaro; SILVA, Rudval Souza da; SILVA, Mary Gomes da. Sistematização da Assistência de Enfermagem ao portador de Diabetes Mellitus e Insuficiência Renal Crônica. Revista Brasileira de Enfermagem. Jan/Fev 2011.

·         North American Nursing Association. Diagnósticos de enfermagem da NANDA: definições e classificações 2009-2011. Porto Alegre: Artmed, 2010.

·         JOHNSON, Marion et al. Diagnósticos, Resultados e Intervenções de Enfermagem. Ligações entre NANDA, NOC E NIC. Tradução de Ana Thorell. Porto Alegre: Artmed, 2005.

Por

·         CUNHA, Amarildo de Souza. Enfermeiro graduado pela Faculdade Pitágoras de Ipatinga/MG. Pós graduando em Terapia Intensiva pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais.



terça-feira, 24 de abril de 2012

Assistência de Enfermagem ao Paciente Cardiopata


Assistência de Enfermagem ao Paciente Cardiopata

Introdução

Ao abordarmos um paciente cardiopata, devemos perguntar o paciente sobre sintomas como, dispnéia, dor torácica, palpitações, edema nos pés e tornozelos os quais sugerem a possibilidade de uma cardiopatia.  Importante também questionarmos Também questionamos o paciente acerca de membros da família que tiveram cardiopatias e enfermidades afins e sobre o paciente manifestar alguma outra doença que afete o sistema cardiovascular, como diabetes mellitus, hipertensão arterial. Neste momento é primordial o questionamento dos hábitos de vida deste paciente como o uso do tabaco, do álcool, sedentarismo, obesidade etc.

Após a anamnese é necessário a realização do exame físico completo desse paciente, objetivando encontrar sinais e sintomas indicativos de doença cardíaca. Alguns pontos são de extrema importância durante essa avaliação, como por exemplo:

Ao avaliarmos a coloração da pele, devemos observar se esta recebe uma quantidade adequada de oxigênio e nutrientes, sua coloração não deve estar pálida ou cianótica, pois estes sinais indicam uma anemia ou uma dificuldade circulatória, que pode ser proveniente de uma doença cardíaca.

Durante a avaliação das veias do pescoço, devemos estar atento ao ingurgitamento ou ausência de enchimento capilar, pois estas estão conectadas diretamente ao átrio direito do coração e fornecem uma indicação sobre o volume e a pressão do sangue que está entrando no lado direito do coração.

Ao realizarmos a ausculta pulmonar, buscamos verificar se os sons estão normais, pois a ocorrência de sons anormais pode indicar a presença de líquido nos pulmões decorrente de uma insuficiência cardíaca.

Outro ponto importante é a ausculta cardíaca, pois anormalidades das válvulas e de estruturas cardíacas causam um fluxo sanguíneo turbulento, dando origem aos sons característicos denominados sopros. Em geral, o fluxo sanguíneo turbulento ocorre quando o sangue passa por válvulas estenosadas ou insuficientes.

Sinais e sintomas da insuficiência cardíaca


·         Edema periférico,
·         Veias do pescoço distendidas
·         Anorexia
·         Distensão abdominal
·         Náuseas
·         Nictúria - é a eliminação de volume aumentado de urina durante a noite.
·         Dispnéia grave
·         Tosse produtiva ou espumosa
·         Dispnéia paroxística noturna
·         Ansiedade intensa
·         Agitação
·         Confusão
·         Astenia grave - sensação de cansaço generalizado e falta de energia, e afeta a capacidade de realizar as tarefas mais simples.
·         Fadiga intensa
·         Oliguria - redução do volume urinário para um valor abaixo de 400 mL em 24 horas.
·         Taquicardia
·         Angor transitório - Angústia profunda com algidez dos membros.

Possíveis Diagnósticos de Enfermagem do Paciente Cardiopata

·         Padrão respiratório ineficaz relacionado a
·         Troca gasosa comprometida relacionada a edema alveolar decorrente das pressões ventriculares elevadas
·         Dor relacionada a um desequilíbrio no suprimento e demanda de O2;
·         Ansiedade ligada à dor torácica, medo da morte, ambiente ameaçador;
·         Débito cardíaco diminuído relacionado à contratilidade comprometida;
·         Intolerância à atividade ligada à oxigenação insulficiente para realizar as AVDs, perda do condicionamento físico pelo repouso no leito;
·         Risco de lesão relacionada à dissolução dos coágulos protetores;
·         Perfusão tecidual alterada relacionada ao infarto;
·         Ineficiências de como lidar com a auto-estima, ruptura do padrão sono-repouso, falta de sistema de apoio significativo e perda de controle.

Intervenções de Enfermagem ao Paciente

Manter débito cardíaco adequado

·         Repouso físico e emocional para reduzir o trabalho cardíaco e as necessidades de oxigênio.
·         Posicionar em semi-Fowler ou Fowler-alto para facilitar o retorno venoso
·         Evitar manobras de valsava
·         Avaliar regularmente sinais vitais, parâmetros hemodinâmicos, nível de consciência, sons cardíacos
·         Monitorizar para verificação de arritmias
·         Observar sinais e sintomas da diminuição da perfusão tecidual periférica: pele fria, palidez facial, enchimento capilar retardado
·         Administrar terapêutica prescrita e avaliar a resposta quanto ao alívio de sintomas

Melhorar a oxigenação

·         Administrar oxigênio para reduzir dispnéia e fadiga
·         Posicionar em semi-Fowler ou Fowler-alto para facilitar a respiração e aliviar a congestão pulmonar 
·         Monitorizar freqüência respiratória, profundidade e facilidades respiratórias
·         Promover mudança de decúbito
·         Estimular os exercícios freqüentes de respiração profunda
·         Proporcionar refeições fracionadas e em pouca quantidade

Restabelecer equilíbrio hídrico

·         Administrar diuréticos
·         Avaliar diariamente o peso
·         Avaliar sinais de hipocalcemia: astenia, mal-estar e câimbras
·         Administrar potássio
·         Estar atento aos potenciais problemas dos diuréticos
·         Observar sinais de distensão da bexiga no idoso com hiperplasia da próstata
·         Proporcionar uma dieta hipocalórica e hipossódica fracionada e restringir os líquidos

Melhorar a tolerância à atividade

·         Aumentar gradualmente a atividade
·         Auxiliar o paciente nas atividades da vida diária.
·         Observar possíveis dores pré-cordiais durante e após as atividades
·         Avaliar sinais vitais, sintomas e resposta comportamental na execução de atividades que requerem maior esforço físico.
·         Planear períodos de repouso e equilibrá-los com a atividade para diminuir as necessidades do miocárdio
·         Encorajar ao auto-cuidado quando tolerado
·         Proporcionar um ambiente calmo para sono e repouso
·         Administrar sedativos para aliviar a insônia e agitação
·         Vigiar a eliminação intestinal para ver se há constipação e administrar emolientes se necessário
Controlar a ansiedade
·         Permitir ao doente que exteriorize os seus sentimentos
·         Incentivar e identificar a força de motivação e vontade
·         Administrar ansiolíticos

Manutenção da integridade cutânea

·         Manter membros inferiores ligeiramente elevados
·         Realizar mudança de decúbito freqüentemente
·         Reduzir ao mínimo os pontos de pressão e tensão
·         Avaliar a existência de zonas de pressão e massagear para ativar a circulação
·         Avaliar diariamente a integridade da pele
·         Higienizar a pele suavemente e aplicar loção hidratante para reduzir soluções de continuidade

Ensino ao doente

·         Desmistificar o conceito de insuficiente
·         Explicar os sintomas de recidiva
·         Aumento de peso
·         Edema periférico
·         Tosse persistente
·         Cansaço
·         Perda de apetite
·         Nicturia
·         Tomar a terapêutica prescrita e ter em atenção os seus efeitos colaterais
·         Pesar diariamente
·         Planejar o reinício das atividades
·         Aumentar a marcha e outras atividades progressivamente
·         Alternar o exercício com o repouso
·         Evitar ultrapassar o nível de tolerância
·         Evitar excesso de alimentos e bebidas
·         Evitar temperaturas extrema

Conclusão

A assistência de enfermagem ao paciente cardiopata deve ser sempre seguida de um exame físico e histórico completo, pois assim poderemos determinar as ações de enfermagem que deverão ser realizadas com este paciente. Outro aspecto importante é a inclusão da família no tratamento deste paciente, pois os hábitos alimentares, o uso correto dos medicamentos e a atividade física são fundamentais para o sucesso do tratamento e da qualidade de vida deste paciente.



Enfº Amarildo de Souza Cunha
Especializando em Terapia Intensiva