quarta-feira, 14 de maio de 2014

A EQUIPE DE ENFERMAGEM NA PREVENÇÃO E CONTROLE DA INFECÇÃO HOSPITALAR NA UNIDADE DE TRATAMENTO INTENSIVO

Por Enfº  Amarildo Cunha, Enfª Fabiane Souza, Enfª Gleice Wetter

Introdução

A Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) é um setor que abriga pacientes críticos com diferentes demandas de cuidados em relação às outras unidades de internação hospitalar, que requeiram assistência médica e de enfermagem especializados e recursos materiais de alta tecnologia para o adequado tratamento e cuidado (DUCCI et al., 2004).

As infecções atribuídas à UTI surgem após 72 horas de internação, ou em maior tempo, caso possa se relacionar a algum procedimento invasivo após sua entrada nessa unidade. Infecções que se manifestam até 48 horas após a alta desta unidade são também relacionadas à assistência intensiva, podendo esse tempo ser prolongado até 72 horas, caso haja evidência para tal (OLIVEIRA, 2005).

Com relação à IH, principalmente no âmbito da UTI, há um problema em nível mundial, o aumento da resistência bacteriana, caracterizada pela diminuição da eficácia dos antibióticos, levando o ambiente hospitalar a uma alta incidência de bactéria multirresistentes (BMR). Essa resistência aos antibióticos correlacionada as BMRs, levam ao aumento significativo da morbidade, mortalidade, no tempo de internação, uso de antibióticos de amplo espectro tendo como conseqüência um gasto exaustivo de recursos financeiros (OLIVEIRA; CARDOSO e MASCARENHAS, 2010).

A IH consiste em danos decorrentes por invasão, multiplicação e ação de microorganismos patogênicos no hospedeiro, acarretando a este alterações imunológicas, provocando um ciclo infeccioso.

De acordo com a Portaria nº 2.616, de 12 de maio de 1998 do Ministério da Saúde: infecção hospitalar é toda infecção que se adquire após a admissão do paciente e que se manifeste durante a internação, ou após a alta quando puder ser relacionada com a internação ou procedimentos hospitalares (BRASIL, 1998).

A infecção hospitalar traz vários prejuízos para a equipe de enfermagem, para o paciente, para as instituições de saúde e a sociedade em geral.

O paciente, após adquirir uma infecção hospitalar fica internado por um maior período de tempo, podendo levá-lo a um maior risco de óbito ou comprometendo na sua recuperação, além de interferir nos seus aspectos psicossociais. Outro prejuízo para o paciente é o uso indiscriminado de antimicrobianos, que poderá levá-lo ao desenvolvimento de uma resistência multibacteriana.

Para a equipe de enfermagem a infecção hospitalar é vista como uma falha no cuidado prestado ao cliente, pois a IH não é uma doença infecciosa qualquer, mas que pode ser decorrente da evolução de práticas assistenciais prestadas ao paciente por toda a equipe, como os procedimentos invasivos e o simples ato de não lavar as mãos, então a IH não é somente um fenômeno biológico normal, mas uma alteração no organismo por vários fatores, podendo este ser por falha no cuidado prestado (TURRINI, 2000).

Outro prejuízo que a IH traz para as instituições de saúde e para a sociedade é o tempo de internação prolongado, aumentando os seus custos e superlotando as unidades hospitalares. Além da ocupação do leito o paciente com IH necessita usar antimicrobianos de amplo espectro, de última geração, e por um maior período de tempo, sendo que em relação a outros antimicrobianos estes tem um custo elevado. E todos esses fatores levam a um aumento na utilização de recursos financeiros.


Infecção Hospitalar na Unidade de Terapia Intensiva

A UTI é considerada um ambiente hospitalar mais crítico em relação às outras unidades de internação, nela concentra-se pacientes clínicos e cirúrgicos, hemodinamicamente instável que necessita de um suporte clínico avançado e monitorizarão contínua dos sinais vitais (PEREIRA et al; 2000).

Martins (2001) afirma que os principais fatores de risco para a IH na UTI são: permanência de internação maior que 48 horas, uso de ventilação mecânica (VM), acesso venoso central (AVC), uso inadequado de agentes antimicrobianos, uso de sonda vesical de demora (SVD). Além destes fatores existem os fatores intrínsecos, e os extrínsecos.

Os fatores intrínsecos são do próprio paciente, como imunossupressão e comprometimento dos mecanismos de defesa do organismo: pele que atua como uma barreira mecânica, e quando esta é interrompida pela presença de cateteres proporciona meios para entrada de microorganismos no organismo do indivíduo. As vias respiratórias apresentam movimentos ciliares, secreções e macrófagos responsáveis pela defesa local, quando em contato com tubos oro ou nasotraqueais, sondas nasogástricas ou nasoentéricas, próteses sofrem interferências, perdendo sua forma natural de defesa contra a presença de microorganismos. O trato gastrointestinal apresenta contratilidade e acidez que inibem o crescimento bacteriano, quando o paciente está em uso de antiácidos e bloqueadores o sistema gastrointestinal fica acometido, sofrendo alterações na defesa contra microorganismos (MARTINS, 2001).

Segundo Knobel (2006) as duas principais infecções hospitalares em UTI são as infecções de corrente sanguínea relacionada a cateteres e as infecções urinárias. O cateter intravascular é muito utilizado em terapia intensiva para, monitorização da pressão sanguínea, fins de diagnóstico e outras funções hemodinâmicas.


A equipe de enfermagem na prevenção da IH na UTI

A prática da prevenção e controle da infecção hospitalar por parte da equipe de enfermagem acontece de várias maneiras. Segundo Lopes e La Cruz (2002) a higienização das mãos, uma boa assepsia, a utilização de anti-sépticos, o bom manuseio do material esterilizado são maneiras de se evitar uma possível infecção hospitalar.

Turrini (2000) destaca que a lavagem inadequada das mãos não decorre por falta de motivação e conhecimento, mas também por alguns obstáculos como falta de profissionais, pias em locais inadequados, falta de papel toalha e produtos que conferem resistência aos usuários. Sendo que este assunto também já foi descrito por Garner e Favero (1985). Cita ainda que uma proporção inadequada de profissionais de enfermagem em relação ao número de pacientes internados encorajaria o profissional a cometer infrações na lavagem de mãos e nas técnicas de isolamento, principalmente em áreas de cuidados críticos.

A enfermagem realiza um trabalho de forma seqüencial e tecnicista, objetivando uma única meta que é o cuidado, mas determinados fatores influenciam negativamente o alcance desse objetivo. É importante lembrar que a enfermagem é composta por indivíduos diferentes, tanto técnicos, social e psicológico. Por isso o espírito de equipe e união deve permanecer entre os seus membros mantendo assim a qualidade da assistência prestada ao cliente (ALVES; MELO, 2006).

Pimentel (2009) relata que o enfermeiro é o profissional mais capacitado e mais requisitado para atuar no controle da infecção hospitalar na UTI compete a ele a implantação de ações de biossegurança, através de adoção de normas e procedimentos seguros e adequados à manutenção da saúde dos pacientes, dos profissionais e dos visitantes.

Brasileiro et al, (2007) acredita que, para que o controle de IH seja eficaz o processo de educação continuada por parte da CCIH nas instituições hospitalares deve ser indispensável, é necessário conhecer quais são e onde estão as falhas e os motivos que levam à equipe de saúde a não adesão nas medidas de controle da IH, enfatizando a importância da participação do profissional neste processo.

Ações da equipe de enfermagem na prevenção e controle da IH na UTI
  •  Treinamento adequado dos profissionais envolvidos na assistência;
  •  Lavagem das mãos de forma correta, em todos os momentos necessários;
  •  Técnica asséptica para realização dos procedimentos invasivos;
  •  Reconhecimento prévio de contato com doenças infecto-contagiosas;
  •  Medidas adequadas de isolamento, com leitos e quartos/ enfermarias disponíveis para esta finalidade;
  • Atenção e supervisão em relação às visitas de familiares.
  • Limitar e controlar a circulação de visitas e de pessoal que não trabalhe na unidade;
  • Limitar e controlar a entrada de colaboradores ou visitantes enfermos na unidade;
  • O uso de luvas, máscaras, gorros, e aventais deverão ser obrigatórios nos procedimentos de cateterismo vesical, aspiração de tubo orotroqueal e/ou traqueostomia;
  • Proceder à troca de curativos a cada 8, 12 horas ou quando necessário, utilizando técnica asséptica;
  • Trocar os circuitos de respiradores e umidificadores a cada 72 horas;
  • Trocar o reanimador manual (quando em uso) a cada 72 horas e após a alta hospitalar;
  • Troca dos frascos e conexões de aspiração endotraqueal (quando em uso) cada 24 horas;
  • Troca dos frascos de drenagem torácica cada 24 horas;
  • Troca de sonda gástrica cada 7 dias, no caso de sondas de permanência curta;
  •  Troca do frasco e equipo de soro com nutrição parenteral cada 24 horas; no caso das demais soluções e medicações contínuas, trocar o equipo e conexão cada 48 horas e o frasco seringa cada 24 horas.


Conclusão

A IH é um grave problema de saúde, que afeta milhares de pessoas em todo o mundo, causando prejuízos para o paciente, para as instituições de saúde e a sociedade em geral.

Os meios de prevenção e controle da IH devem estar inseridos de forma constante na prática da assistência de enfermagem ao paciente hospitalizado na UTI.

Embora as principais causas de infecção hospitalar estejam  relacionadas com o doente suscetível à infecção e com os procedimentos, técnicas e terapêuticos utilizados no tratamento, não podemos deixar de considerar a grande  parcela de responsabilidade da equipe multiprofissional, relacionada aos padrões de  assepsia, higiene e as técnicas empregadas na recuperação do paciente na UTI.
Estudos, pesquisas e publicações nesta área são de extrema relevância para equipe de enfermagem e instituições de saúde, uma vez que estes propiciam aumento qualitativo e quantitativo de informação e conhecimento, contribuído para uma melhor atuação dos profissionais de enfermagem na prevenção e controle da infecção hospitalar.

Referências

DUCCI, Adriana Janzantte; PADILHA, Katia Grillo; TELLES Sandra Cristina Ribeiro; GUTIERREZ, Beatriz Aparecida Ozello. Gravidade de Pacientes e Demanda de Trabalho de Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva: Análise Evolutiva Segundo o TISS-28 v. 16, n. 1, Janeiro/Março 2004.

OLIVEIRA, Adriana Cristina de. Infecções Hospitalares, 1ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2005.

OLIVEIRA, CARDOSO, MASCARENHJAS. Precauções de contato em unidade de terapia intensiva: facilitadores e dificultadores para adesão dos profissionais. Rev. Esc enferm USP. BH, 2010; 44 (1):161-5.

TURRINI, RNT. Percepção das Enfermeiras sobre fatores de risco para a infecção hospitalar. Rev.Esc.Enf. USP, v. 34, n. 2, p. 174-84, jun. 2000.

BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria nº 2616 de 12 de Maio de 1998. Estabelecem diretrizes e normas para a prevenção e controle das infecções hospitalares. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 1998.

PEREIRA, Milca Severino; PRADO Marinésia Aparecida do; SOUSA, Joaquim Tomé de; TIPPLE, Anaclara Ferreira Veiga; SOUZA, Adenícia Custódia Silva e . Controle de infecção hospitalar em unidade de terapia intensiva. Revista Eletrônica de Enfermagem. Vol.2 n.1, pag.1-8, 2000.

KNOBEL, Elias. Condutas do Paciente Grave. 3ª ed. São Paulo: Atheneu, 2006.

ALVES, M.; MELLO, R.A. Trabalho em equipe entre profissionais da enfermagem em um centro de terapia intensiva. Ciência, Cuidado e Saúde: vol 5, n. 3, set/dez 2006.

SITON, Gabriela; SANTOS, Lucinete Ferreira; Silva, Tatiany Cristina Pereira; BRASILEIRO, Marislei, et al. A visão da equipe de enfermagem a respeito da importância das ações de educação continuada para prevenção e o controle de infecção hospitalar. Dissertação (Mestrado) – universidade católica de Goiás. Revista Eletrônica de Enfermagem. Janeiro/julho 2007.