domingo, 4 de junho de 2017

CENTRAL DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO

Central de Material e Esterilização

















A Central de Material e Esterilização (CME) é uma unidade de serviço que presta apoio técnico a todas as unidades assistenciais de uma instituição hospitalar, que localizada dentro ou fora do estabelecimento de saúde, destina a receber material considerado sujo e contaminado, descontaminá-los, prepará-los e esterilizá-los, bem como, preparar e esterilizar as roupas limpas oriundas da lavanderia e armazenar esses artigos para futura distribuição.

Os materiais hospitalares, na sua maioria, têm uma associação importante com a infecção hospitalar, e aí vale lembrar que medidas eficazes deverão ser estabelecidas no processamento destes artigos, visando a minimizar o risco de infecção hospitalar. Estes artigos deverão ser submetidos a processos de limpeza, desinfecção ou esterilização para alcançarem os objetivos imprescindíveis.

A Resolução RDC nº. 307 de 14de novembro de 2002, considera a CME uma unidade de apoio técnico, que tem como finalidade o fornecimento de materiais médico-hospitalares adequadamente processados, proporcionando assim, condições para o atendimento direto e a assistência à saúde dos indivíduos enfermos e sadios de forma segura.

Estrutura Física da CME

É primordial que para um bom desempenho dos profissionais que trabalham nessa área, que a CME possua uma boa infraestrutura.

Com o propósito de evitar a ocorrência de infecção hospitalar, as paredes e pisos devem ser resistentes, laváveis, de cor clara, de fácil limpeza, lisos e sem nada que possam favorecer o acúmulo de sujidades. Tetos e portas devem ser de superfície lisa, clara, lavável, sem juntas, cantos e saliências dispensáveis, sendo que as portas ainda devem conter visores.

Na Sala de lavagem e descontaminação, as bancadas devem ter cubas fundas para evitar respingos no trabalhador, torneiras com disponibilidade de água quente e fria, adaptações para possibilitar a limpeza de tubulações e artigos com lumens e balcões em aço inoxidável, onde os materiais serão depositados para posterior secagem e separação.

Fluxo da CME

A CME é uma área crítica e o seu planejamento de fluxo dos materiais e roupas é: recebimento de roupa limpa/material, descontaminação de material, separação e lavagem de material, preparo de roupas e material, esterilização, guarda e distribuição.

A área de descontaminação e limpeza deve possuir uma barreira física com relação às demais áreas. Logo o fluxo deve ser unidirecional, permitindo que os materiais estéreis não se misturem com os não estéreis.

Classificação da CME

Atualmente, a CME classifica-se em três categorias, a saber: centralizada, semi-centralizada e descentralizada.

A centralizada é aquela que oferece concentração de todo o material esterilizado ou não, facilitando desta forma a qualidade e a quantidade de técnicas de higienização, limpeza e também avaliação de todo o material de uma maneira segura.
A semi-centralizada oferece a vantagem de que a esterilização do material é centralizada em um só lugar, mas cada unidade prepara seu material. Não chega a ser o ideal, mas torna a credibilidade da técnica em única, o que traz mais tranquilidade para o uso.
A descentralizada não deixa de trazer facilidades para aqueles que têm dificuldades na execução da prática. Resolve o problema para aqueles que se utilizam desta modalidade, constituindo, porém, uma preocupação com as consequências, como o desvio de material, protocolos e rotinas fora do padrão e falha na avaliação.

Segundo a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 307, de 14/11/2002, a qual altera a resolução anterior, RDC nº 50/2002 (21/02/2002) do Ministério da Saúde, a CME deve existir quando houver centros cirúrgicos, obstétricos e/ou ambulatoriais, hemodinâmica, emergência de alta complexidade e urgência.

Classificação dos Artigos a Serem Esterilizados

Os artigos hospitalares podem ser classificados em críticos, semi-críticos e não críticos.

Artigos críticos – entram em contato com tecidos estéreis ou com o sistema vascular e requerem a esterilizados para uso, pois possuem alto risco de causar infecção. Todos os artigos que entrarão em contato com o sítio cirúrgico, instrumentais e mãos do cirurgião e auxiliares.
Artigos semicríticos – são aqueles destinados ao contato com a pele não intacta ou com mucosas íntegras. Requerem desinfecção de alto nível ou esterilização.
Artigos não críticos – são artigos destinados ao contato com a pele íntegra do paciente. Ex.: comadres (aparadores), aparelhos de pressão. Requerem limpeza ou desinfecção de baixo ou médio nível.

Divisão da CME

A CME deve ser dividida em, no mínimo, três áreas: Descontaminação e Limpeza; Empacotamento, Desinfecção e Esterilização; Armazenamento e Distribuição.

A área de descontaminação e limpeza deve possuir uma barreira física com relação às demais áreas. Expurgo é a área onde é realizada a limpeza, descontaminação e consequentemente a reparação de todo material contaminado. Área esta que se caracteriza como um dos locais mais contaminados da CME.

A limpeza terá que ser rigorosa, pois a falha na mesma impede a esterilização devido à gordura e à sujeira que servem como proteção aos micro-organismos e atuam como barreira para o contato com agentes que fazem de fato a esterilização. Ela é a principal etapa do processamento de artigo; promove a remoção de sujidades (biofilme); remoção ou redução de microorganismos; bem como de substâncias pirogênicas (são substâncias não infecciosas, mas que podem gerar reações alérgicas e febris).

Biofilmes bacterianos são comunidades de bactérias envoltas por substâncias, principalmente açúcares, produzidas pelas próprias bactéria, que conferem a comunidade proteção contra diversos tipos de agressões que ela pode vir a sofrer como, por exemplo, a falta de nutrientes, o uso de um antibiótico ou algum agente químico utilizado para combater bactérias. 

Desinfecção é o método capaz de eliminar a maioria dos organismos causadores de doenças, com exceção dos esporos. É classificada em vários níveis e possui alguns fatores que influenciam na eficácia da sua operação. 
Alguns fatores podem interferir na eficácia da desinfecção, como: Limpeza prévia mal executada; tempo de exposição ao germicida insuficiente; solução germicida com ação ineficaz; temperatura e pH do processo 

A desinfecção pode ocorrer por três níveis: baixo nível, médio nível e alto nível.
Baixo Nível: Na desinfecção de baixo nível são destruídas bactérias em forma vegetativa, alguns vírus e fungos.  É eficaz, porém sobrevivem a este método esporos bacterianos, o vírus da hepatite B (HBV), vírus lentos e o bacilo da tuberculose.  As soluções utilizadas neste nível são o álcool etílico, n-propílico e isopropílico, o hipoclorito de sódio e o quaternário de amônia.
Médio Nível: Promove desinfecção contra os mesmos tipos que a desinfecção de baixo nível, porém, é eficaz também contra o bacilo da tuberculose, a maioria dos vírus e fungos. Sobrevivem a esse método, os esporos e os vírus lentos. As soluções utilizadas são o álcool etílico (70%) e isopropílico (92%), hipoclorito de sódio, fenólicos e iodóforos. 
Alto Nível: Nesse nível de desinfecção são destruídas bactérias, fungos e alguns esporos. Sobrevivem apenas alguns esporos bacterianos e os vírus lentos. As soluções adotadas são o hipoclorito de sódio, glutaraldeído, solução de peróxido de hidrogênio, cloro e compostos clorados, ácido peracético, ortophtalaldeído, água superoxidada. 

Esterilização: É o método que destrói todos os organismos patogênicos (bactérias, fungos, esporos e vírus) mediante a aplicação de agentes físicos, químicos e físico-químicos. Na escolha do método de esterilização é avaliado o material a ser submetido ao processo, considerando sua natureza e a resistência do mesmo a calor, vapor ou ambos. 

A esterilização pode acontecer por três métodos distintos, que são físicos, químicos e físico-químicos.

Métodos Físicos: São aqueles que utilizam calor nas mais variadas formas e radiações, dependendo da unidade hospitalar. O método mais utilizado é o de vapor saturado sob pressão (autoclave). Os materiais que podem ser autoclavados são: metais, tecidos, látex, borrachas, artigos termo-resistentes e líquidos.
Métodos Químicos: O método consiste em imersão dos artigos em líquidos esterilizantes, requerendo cuidados especiais. Esterilizantes químicos cujos princípios ativos são autorizados pela Portaria nº. 930/92 do Ministério da Saúde. São os aldeídos (glutaraldeído, formaldeído), ácido peracético (utilizado no reprocessamento de dialisadores); e outros, desde que atendam a legislação especifica.
Métodos Físico-Químicos: Esterilizadoras a óxido de etileno, e plasma de peróxido de hidrogênio. Uma das formas mais usadas para esterilização é o óxido de etileno (ETO), indicada para os materiais termossensíveis, que são aqueles cujas características físicas sejam incompatíveis com os processos convencionais de esterilização por vapor e alta temperatura. Neste perfil se encaixam artigos respiratórios, cateteres, conexões plásticas de equipamentos médicos, seringas, embalagens de produtos estéreis, entre outros.

Embalagens dos Produtos a Serem Esterilizados

Todo artigo a ser esterilizado, armazenado e transportado, deverá ser acondicionado em embalagem criteriosamente selecionada, para a segurança do processo. Existem uma diversidade de embalagens para os produtos a serem esterilizados nos serviços e saúde.

O objetivo das Embalagens é fornecer a manutenção da esterilidade, proteção para transporte e armazenagem, providenciar a transferência asséptica dos artigos. E existem basicamente dois tipos de embalagens, que são as descartáveis e as reutilizáveis.

As descartáveis podem ser de papel grau cirúrgico, papel crepado, manta de polipropileno – 100% que é formada por fibras longas e contínuas que proporcionam resistência mecânica, maleabilidade e por uma trama densa de microfibras que age como barreira microbiana, Tyvek® que é uma lâmina de polietileno entrelaçado de alta densidade (PEAD), que suporta altas temperaturas, alta resistência à tração e perfuração, barreira microbiana, seu uso é limitado devido ao alto custo.
As reutilizáveis podem ser de tecido de algodão, estojo metálico, vidro refratário, container rígido.

Cada CME irá escolher o tipo de embalagem adequada aos produtos a serem esterilizados, bem como viabilidade de preço, qualidade e que atenda as normas técnicas da instituição e dos órgãos de controle, como por exemplo a ANVISA.


Validação e Monitoração do Processo de Limpeza e Esterilização dentro da CME

Entre as regulamentações regressadas ao processamento e reprocessamento de artigos médico-hospitalares temos a RDC 156 publicada pela ANVISA em 11 de agosto de 2006, que dispõe sobre o registro, rotulagem e reprocessamento de produtos médicos, a RE 2605/06 que estabelece a lista de produtos médicos enquadrados como de uso único proibidos de serem reprocessados e a RE 2606/06 que dispõe sobre as diretrizes para elaboração, validação e implantação de protocolos de reprocessamento de produtos médicos.

Um progresso extraordinário na ação regulatória foi a publicação da RDC 15 pela ANVISA, em março de 2012, que dispõe sobre requisitos de boas práticas para o processamento de produtos para saúde, gerando também a normatização das atribuições dos profissionais de enfermagem na CME e em empresas processadoras de produtos para saúde através da resolução 424 pelo COFEN em abril de 2012.

A validação pode ser delineada, sucintamente, como um conjunto de práticas com a finalidade de confirmar que o método regularizado responde totalmente à sua finalidade e é um procedimento preciso e único, retomado com certa periodicidade.

A monitoração, por outro lado, tem a finalidade de garantir a eficácia e a reprodutibilidade do reprocessamento de artigos, por meio da correta monitoração dos processos de limpeza e esterilização, constituindo um procedimento contínuo. Esta monitoração é efetivada por indicadores e monitores de processo em quantidade e assiduidade definidos pela RDC 15.

Testes e Controles de Esterilização

Através dos resultados dos parâmetros críticos do processo pelos indicadores físicos, químicos e biológicos.

Os testes físicos são realizados através do tempo, da temperatura e do vapor, realizados a cada ciclo de esterilização.

Os testes químicos podem indicar uma falha em potencial no processo de esterilização por meio da mudança de sua coloração. São normalmente encontrados em fitas zebradas, que indicam se um determinado pacote passou pelo processo de esterilização. Devem ser utilizados em todos os pacotes externamente. Outro teste químico muito utilizado é o Teste Bowie e Dick, que identifica a presença de ar no interior dos pacotes, causado por falhas durante o processo de remoção de ar ou na penetração eficaz do vapor, indicado pela mudança de cor do indicador químico existente no pacote (de azul para rosa).

O teste biológico é a monitorização mais confiável, pois é feita com microorganismos tecnicamente preparados para demonstrar a eficácia da esterilização, são composições estabelecidas a partir de esporos bacterianos normalmente armazenados em ampolas e verificam a eficiência dos esterilizadores e somente eles podem detectar a morte dos esporos microscópicos dentro do esterilizador e isso explica o porquê da importância do controle de carga, processo pelo qual cada carga é monitorada e liberada com base no indicador biológico.

Recursos Humanos

O quadro de pessoal de uma CME deve ser composto por Enfermeiros, Técnicos de Enfermagem, Auxiliares Administrativos, Auxiliares de Higienização e Limpeza e atualmente algumas centrais de materiais e esterilização contém em seu quadro de funcionários, um Engenheiro Técnico, para controle, assistência técnica e manutenção dos equipamentos utilizados nesta unidade de serviço.

Aos auxiliares administrativos, compete a função de zelar pelas atividades administrativas, como agendamento de cirurgias a serem realizadas, compras de materiais de escritório, atendimento aos telefonemas da unidade, realização de pedidos de almoxarifado e também servir como elo entre o ambiente interno e externo da CME.

Ao auxiliar de higienização e limpeza, compete pela higienização da estrutura física da CME.

A equipe de enfermagem que trabalha nesta unidade presta uma assistência indireta ao paciente, e é tão importante quanto à assistência direta, que é realizada pela equipe de enfermagem que atende ao paciente nas unidades assistenciais.

Ao Enfermeiro Supervisor compete:
  •  Atua na coordenação do setor;
  •  Prever os materiais necessários para prover as unidades consumidoras;
  • Elaborar relatórios mensais estatísticos, tanto de custo quanto de produtividade;
  •  Planejar e fazer anualmente o orçamento da CME com antecedência de 04 a 6 meses
  •  Elaborar e manter atualizado o manual de normas, rotinas e procedimentos da CME, que deve estar disponível para a consulta dos colaboradores;
  •  Elaborar treinamentos e capacitação da equipe técnica;
  • Desenvolver pesquisas e trabalhos científicos que contribuam para o crescimento e as boas práticas de Enfermagem, participando de tais projetos e colaborando com seu andamento.
  • Manter-se atualizado acerca das tendências técnicas e científicas relacionadas com o controle de infecção hospitalar e com o uso de tecnologias avançadas nos procedimentos que englobem artigos processados pelo CME.
  • Participar de comissões institucionais que interfiram na dinâmica de trabalho do CME.
  • Compartilhar dos processos de seleção e admissão de novos funcionários, bem como dos processos de demissão.



Ao Técnico de Enfermagem compete:
  •         Fazer a leitura dos indicadores biológicos, de acordo com as rotinas da instituição;
  •         Receber, conferi, limpar e preparar os artigos consignados;
  •       Realizara limpeza, o preparo, a esterilização, a guarda e a distribuição de artigos, de acordo com solicitação;
  •         Preparar os carros e caixas para cirurgias;
  •         Preparar as caixas cirúrgicas;
  •         Realizar cuidados com artigos endoscópicos em geral;
  •         Monitorar afetiva e continuamente cada lote ou carga nos processos de esterilização;
  •       Revisar a listagem de caixas cirúrgicas, bem como proceder à sua reposição;
  •       Fazer listagem e encaminhamento de artigos e instrumental cirúrgico para conserto.
  •         Guardar e distribuir todos os artigos esterilizados


Referências




Enf. Amarildo de Souza Cunha
MBA em Gestão da Saúde e Administração Hospitalar