Central
de Material e Esterilização
A Central de Material e Esterilização (CME) é uma unidade de serviço que presta apoio técnico a todas as unidades assistenciais de uma instituição hospitalar, que localizada dentro ou fora do estabelecimento de saúde, destina a receber material considerado sujo e contaminado, descontaminá-los, prepará-los e esterilizá-los, bem como, preparar e esterilizar as roupas limpas oriundas da lavanderia e armazenar esses artigos para futura distribuição.
Os
materiais hospitalares, na sua maioria, têm uma associação importante com a
infecção hospitalar, e aí vale lembrar que medidas eficazes deverão ser
estabelecidas no processamento destes artigos, visando a minimizar o risco de
infecção hospitalar. Estes artigos deverão ser submetidos a processos de
limpeza, desinfecção ou esterilização para alcançarem os objetivos
imprescindíveis.
A
Resolução RDC nº. 307 de 14de novembro de 2002, considera a CME uma unidade de
apoio técnico, que tem como finalidade o fornecimento de materiais
médico-hospitalares adequadamente processados, proporcionando assim, condições
para o atendimento direto e a assistência à saúde dos indivíduos enfermos e
sadios de forma segura.
Estrutura
Física da CME
É
primordial que para um bom desempenho dos profissionais que trabalham nessa
área, que a CME
possua uma boa infraestrutura.
Com
o propósito de evitar a ocorrência de infecção hospitalar, as paredes e pisos
devem ser resistentes, laváveis, de cor clara, de fácil limpeza, lisos e sem
nada que possam favorecer o acúmulo de sujidades. Tetos e portas devem ser de
superfície lisa, clara, lavável, sem juntas, cantos e saliências dispensáveis, sendo
que as portas ainda devem conter visores.
Na
Sala de lavagem e descontaminação, as bancadas devem ter cubas fundas para
evitar respingos no trabalhador, torneiras com disponibilidade de água quente e
fria, adaptações para possibilitar a limpeza de tubulações e artigos com lumens
e balcões em aço inoxidável, onde os materiais serão depositados para posterior
secagem e separação.
Fluxo
da CME
A
CME é uma área crítica e o seu planejamento de fluxo dos materiais e roupas é:
recebimento de roupa limpa/material, descontaminação de material, separação e
lavagem de material, preparo de roupas e material, esterilização, guarda e
distribuição.
A área de descontaminação e limpeza
deve possuir uma barreira física com relação às demais áreas. Logo o fluxo deve
ser unidirecional, permitindo que os materiais estéreis não se misturem com os
não estéreis.
Classificação
da CME
Atualmente, a CME classifica-se em três categorias, a saber: centralizada, semi-centralizada e descentralizada.
A centralizada é aquela que oferece
concentração de todo o material esterilizado ou não, facilitando desta forma a
qualidade e a quantidade de técnicas de higienização, limpeza e também
avaliação de todo o material de uma maneira segura.
A semi-centralizada oferece a vantagem de que a esterilização do material é
centralizada em um só lugar, mas cada unidade prepara seu material. Não chega a
ser o ideal, mas torna a credibilidade da técnica em única, o que traz mais
tranquilidade para o uso.
A descentralizada não deixa de trazer facilidades para aqueles que têm dificuldades
na execução da prática. Resolve o problema para aqueles que se utilizam desta
modalidade, constituindo, porém, uma preocupação com as consequências, como o
desvio de material, protocolos e rotinas fora do padrão e falha na avaliação.
Segundo a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 307, de
14/11/2002, a qual altera a resolução anterior,
RDC nº 50/2002 (21/02/2002) do Ministério da Saúde, a CME deve existir quando
houver centros cirúrgicos, obstétricos e/ou ambulatoriais, hemodinâmica,
emergência de alta complexidade e urgência.
Classificação
dos Artigos a Serem Esterilizados
Os artigos hospitalares podem ser classificados
em críticos, semi-críticos e não críticos.
Artigos críticos – entram
em contato com tecidos estéreis ou com o sistema vascular e requerem a
esterilizados para uso, pois possuem alto risco de causar infecção. Todos os
artigos que entrarão em contato com o sítio cirúrgico, instrumentais e mãos do
cirurgião e auxiliares.
Artigos semicríticos – são
aqueles destinados ao contato com a pele não intacta ou com mucosas íntegras.
Requerem desinfecção de alto nível ou esterilização.
Artigos não críticos – são
artigos destinados ao contato com a pele íntegra do paciente. Ex.: comadres
(aparadores), aparelhos de pressão. Requerem limpeza ou desinfecção de baixo ou
médio nível.
Divisão da CME
A CME deve ser dividida em, no mínimo,
três áreas: Descontaminação e Limpeza; Empacotamento, Desinfecção e
Esterilização; Armazenamento e Distribuição.
A
área de descontaminação e limpeza deve possuir uma
barreira física com relação às demais áreas. Expurgo é a área onde é realizada
a limpeza, descontaminação e
consequentemente a reparação de
todo material contaminado. Área esta que se caracteriza como um dos locais mais
contaminados da CME.
A limpeza terá que ser rigorosa, pois
a falha na mesma impede a esterilização devido à gordura e à sujeira que servem
como proteção aos micro-organismos e atuam como barreira para o contato com
agentes que fazem de fato a esterilização. Ela é a principal etapa do
processamento de artigo; promove a remoção de sujidades (biofilme); remoção ou
redução de microorganismos; bem como de substâncias pirogênicas (são substâncias não infecciosas, mas que podem
gerar reações alérgicas e febris).
Biofilmes
bacterianos são comunidades de bactérias envoltas por substâncias,
principalmente açúcares, produzidas pelas próprias bactéria, que conferem a
comunidade proteção contra diversos tipos de agressões que ela pode vir a
sofrer como, por exemplo, a falta de nutrientes, o uso de um antibiótico ou
algum agente químico utilizado para combater bactérias.
Desinfecção
é o método capaz de eliminar a maioria dos organismos causadores de doenças,
com exceção dos esporos. É classificada em vários níveis e possui alguns
fatores que influenciam na eficácia da sua operação.
Alguns fatores podem interferir na
eficácia da desinfecção, como: Limpeza prévia mal executada; tempo de exposição
ao germicida insuficiente; solução germicida com ação ineficaz; temperatura e
pH do processo
A desinfecção pode ocorrer por três
níveis: baixo nível, médio nível e alto nível.
Baixo Nível: Na
desinfecção de baixo nível são destruídas bactérias em forma vegetativa, alguns
vírus e fungos. É eficaz, porém sobrevivem
a este método esporos bacterianos, o vírus da hepatite B (HBV), vírus lentos e
o bacilo da tuberculose. As soluções
utilizadas neste nível são o álcool etílico, n-propílico e isopropílico, o
hipoclorito de sódio e o quaternário de amônia.
Médio Nível: Promove
desinfecção contra os mesmos tipos que a desinfecção de baixo nível, porém, é
eficaz também contra o bacilo da tuberculose, a maioria dos vírus e fungos.
Sobrevivem a esse método, os esporos e os vírus lentos. As soluções utilizadas
são o álcool etílico (70%) e isopropílico (92%), hipoclorito de sódio,
fenólicos e iodóforos.
Alto Nível: Nesse
nível de desinfecção são destruídas bactérias, fungos e alguns esporos.
Sobrevivem apenas alguns esporos bacterianos e os vírus lentos. As soluções
adotadas são o hipoclorito de sódio, glutaraldeído, solução de peróxido de
hidrogênio, cloro e compostos clorados, ácido peracético, ortophtalaldeído,
água superoxidada.
Esterilização:
É o método que destrói todos os organismos patogênicos (bactérias, fungos, esporos
e vírus) mediante a aplicação de agentes físicos, químicos e físico-químicos.
Na escolha do método de esterilização é avaliado o material a ser submetido ao
processo, considerando sua natureza e a resistência do mesmo a calor, vapor ou
ambos.
A esterilização pode acontecer por
três métodos distintos, que são físicos, químicos e físico-químicos.
Métodos Físicos:
São aqueles que utilizam calor nas mais variadas formas e radiações, dependendo
da unidade hospitalar. O método mais utilizado é o de vapor saturado sob
pressão (autoclave). Os materiais que podem ser autoclavados são: metais,
tecidos, látex, borrachas, artigos termo-resistentes e líquidos.
Métodos Químicos: O
método consiste em imersão dos artigos em líquidos esterilizantes, requerendo
cuidados especiais. Esterilizantes químicos cujos princípios ativos são
autorizados pela Portaria nº. 930/92 do Ministério da Saúde. São os aldeídos
(glutaraldeído, formaldeído), ácido peracético (utilizado no reprocessamento de
dialisadores); e outros, desde que atendam a legislação especifica.
Métodos Físico-Químicos: Esterilizadoras
a óxido de etileno, e plasma de peróxido de hidrogênio. Uma das formas mais
usadas para esterilização é o óxido de etileno (ETO), indicada para os
materiais termossensíveis, que são aqueles cujas características físicas sejam
incompatíveis com os processos convencionais de esterilização por vapor e alta
temperatura. Neste perfil se encaixam artigos respiratórios, cateteres,
conexões plásticas de equipamentos médicos, seringas, embalagens de produtos
estéreis, entre outros.
Embalagens
dos Produtos a Serem Esterilizados
Todo artigo a ser esterilizado,
armazenado e transportado, deverá ser acondicionado em embalagem
criteriosamente selecionada, para a segurança do processo. Existem uma
diversidade de embalagens para os produtos a serem esterilizados nos serviços e
saúde.
O objetivo
das Embalagens é fornecer a manutenção da esterilidade, proteção
para transporte e armazenagem, providenciar a transferência asséptica dos
artigos. E existem basicamente dois tipos de embalagens, que são as
descartáveis e as reutilizáveis.
As
descartáveis podem ser de papel grau cirúrgico, papel
crepado, manta de polipropileno – 100% que é formada por fibras longas e
contínuas que proporcionam resistência mecânica, maleabilidade e por uma trama
densa de microfibras que age como barreira microbiana, Tyvek® que é uma lâmina
de polietileno entrelaçado de alta densidade (PEAD), que suporta altas temperaturas,
alta resistência à tração e perfuração, barreira microbiana, seu uso é limitado
devido ao alto custo.
As
reutilizáveis podem ser de tecido de algodão, estojo
metálico, vidro refratário, container rígido.
Cada CME irá escolher o tipo de embalagem adequada aos produtos a serem esterilizados, bem como viabilidade de
preço, qualidade e que atenda as normas técnicas da instituição e dos órgãos
de controle, como por exemplo a ANVISA.
Validação
e Monitoração do Processo de Limpeza e Esterilização dentro da CME
Entre as
regulamentações regressadas ao processamento e reprocessamento de artigos
médico-hospitalares temos a RDC 156 publicada pela ANVISA em 11 de agosto de
2006, que dispõe sobre o registro, rotulagem e reprocessamento de produtos
médicos, a RE 2605/06 que estabelece a lista de produtos médicos enquadrados
como de uso único proibidos de serem reprocessados e a RE 2606/06 que dispõe sobre
as diretrizes para elaboração, validação e implantação de protocolos de
reprocessamento de produtos médicos.
Um progresso
extraordinário na ação regulatória foi a publicação da RDC 15 pela ANVISA, em
março de 2012, que dispõe sobre requisitos de boas práticas para o
processamento de produtos para saúde, gerando também a normatização das
atribuições dos profissionais de enfermagem na CME e em empresas processadoras
de produtos para saúde através da resolução 424 pelo COFEN em abril de 2012.
A validação
pode ser delineada, sucintamente, como um conjunto de práticas com a
finalidade de confirmar que o método regularizado responde totalmente à sua
finalidade e é um procedimento preciso e único, retomado com certa
periodicidade.
A
monitoração, por outro lado, tem a finalidade de garantir a eficácia e a
reprodutibilidade do reprocessamento de artigos, por meio da correta
monitoração dos processos de limpeza e esterilização, constituindo um
procedimento contínuo. Esta monitoração é efetivada por indicadores e monitores
de processo em quantidade e assiduidade definidos pela RDC 15.
Testes e Controles de Esterilização
Através dos
resultados dos parâmetros críticos do processo pelos indicadores físicos,
químicos e biológicos.
Os testes físicos
são realizados através do tempo, da temperatura e do vapor, realizados a cada
ciclo de esterilização.
Os testes
químicos podem indicar uma falha em potencial no processo de esterilização por
meio da mudança de sua coloração. São
normalmente encontrados em fitas zebradas, que indicam se um determinado pacote
passou pelo processo de esterilização. Devem ser utilizados em todos os pacotes
externamente. Outro teste químico muito utilizado é o Teste Bowie e Dick, que identifica
a presença de ar no interior dos pacotes, causado por falhas durante o processo
de remoção de ar ou na penetração eficaz do vapor, indicado pela mudança de cor
do indicador químico existente no pacote (de azul para rosa).
O teste
biológico é a monitorização mais confiável, pois
é feita com microorganismos tecnicamente preparados para demonstrar a eficácia
da esterilização, são composições estabelecidas a partir de esporos bacterianos
normalmente armazenados em ampolas e verificam a eficiência dos esterilizadores
e somente eles podem detectar a morte dos esporos microscópicos dentro do esterilizador
e isso explica o porquê da importância do controle de carga, processo pelo qual
cada carga é monitorada e liberada com base no indicador biológico.
Recursos
Humanos
O quadro de pessoal de uma CME deve
ser composto por Enfermeiros, Técnicos de Enfermagem, Auxiliares Administrativos,
Auxiliares de Higienização e Limpeza e atualmente algumas centrais de materiais
e esterilização contém em seu quadro de funcionários, um Engenheiro Técnico,
para controle, assistência técnica e manutenção dos equipamentos utilizados
nesta unidade de serviço.
Aos auxiliares administrativos, compete a
função de zelar pelas atividades administrativas, como agendamento de cirurgias
a serem realizadas, compras de materiais de escritório, atendimento aos
telefonemas da unidade, realização de pedidos de almoxarifado e também servir
como elo entre o ambiente interno e externo da CME.
Ao auxiliar de higienização e limpeza, compete
pela higienização da estrutura física da CME.
A equipe de enfermagem que trabalha
nesta unidade presta uma assistência indireta ao paciente, e é tão importante
quanto à assistência direta, que é realizada pela equipe de enfermagem que
atende ao paciente nas unidades assistenciais.
Ao
Enfermeiro Supervisor compete:
- Atua na coordenação do setor;
- Prever os materiais necessários para prover as unidades consumidoras;
- Elaborar relatórios mensais estatísticos, tanto de custo quanto de produtividade;
- Planejar e fazer anualmente o orçamento da CME com antecedência de 04 a 6 meses
- Elaborar e manter atualizado o manual de normas, rotinas e procedimentos da CME, que deve estar disponível para a consulta dos colaboradores;
- Elaborar treinamentos e capacitação da equipe técnica;
- Desenvolver pesquisas e trabalhos científicos que contribuam para o crescimento e as boas práticas de Enfermagem, participando de tais projetos e colaborando com seu andamento.
- Manter-se atualizado acerca das tendências técnicas e científicas relacionadas com o controle de infecção hospitalar e com o uso de tecnologias avançadas nos procedimentos que englobem artigos processados pelo CME.
- Participar de comissões institucionais que interfiram na dinâmica de trabalho do CME.
- Compartilhar dos processos de seleção e admissão de novos funcionários, bem como dos processos de demissão.
Ao Técnico
de Enfermagem compete:
- Fazer a leitura dos indicadores biológicos, de acordo com as rotinas da instituição;
- Receber, conferi, limpar e preparar os artigos consignados;
- Realizara limpeza, o preparo, a esterilização, a guarda e a distribuição de artigos, de acordo com solicitação;
- Preparar os carros e caixas para cirurgias;
- Preparar as caixas cirúrgicas;
- Realizar cuidados com artigos endoscópicos em geral;
- Monitorar afetiva e continuamente cada lote ou carga nos processos de esterilização;
- Revisar a listagem de caixas cirúrgicas, bem como proceder à sua reposição;
- Fazer listagem e encaminhamento de artigos e instrumental cirúrgico para conserto.
- Guardar e distribuir todos os artigos esterilizados
Referências
- Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 307 de 14/11/2002;
- Resolução da Diretoria Colegiadas (RDC) 15 de 15/03/2012;
- Resolução COFEN Nº 424/2012
- Reunião dos Serviços de Controle de Infecção Hospitalar dos Hospitais Municipais de São Paulo Ano 2013. Disponível em: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/chamadas/rdc_15_22-05-2013_1370617689.pdf . Acessado em 03/06/2017.
- Validação e monitoração do processo de limpeza e esterilização de artigos médico-hospitalares. Disponível em: http://boaspraticasnet.com.br/validacao-e-monitoracao-do-processo-de-limpeza-e-esterilizacao-de-artigos-medico-hospitalares/. Acessado em 03/06/2017.
Enf. Amarildo
de Souza Cunha
MBA em
Gestão da Saúde e Administração Hospitalar