- Marca-Passo Provisório na Sala de Emergência
Atuação da Equipe de Enfermagem
Enfº Amarildo Cunha
Os marca-passos cardíacos artificiais (MP) são dispositivos
eletrônicos de estimulação multiprogramável capazes de substituir os impulsos
elétricos e/ou ectópicos, com o objetivo de obter atividade elétrica cardíaca,
a mais fisiológica possível.
Atualmente, a estimulação temporária é um procedimento
indispensável em unidades de Pronto Atendimento (PA), sendo utilizado em
decorrência da natureza aguda e frequentemente transitória de determinadas
patologias cardíaca. Pode ser também realizada de forma eletiva e preventiva
para controle da frequência cardíaca (FC), tratamento de distúrbios de
condução, dentre outras doenças cardiovasculares.
Daí a importância e necessidade da equipe de Enfermagem estar
preparada para o atendimento e assistência destes pacientes.
Indicação do MP Provisório
Como abordagem de primeira escolha para pacientes com
bradicardia associada a presença de sinais e sintomas de instabilidade
hemodinâmica, como: Tonturas, alteração do nível de consciência (presença de
síncope ou pré-sincope), hipotensão, dor torácica de origem anginosa e dispneia
(insuficiência cardíaca ou congestão pulmonar).
Programação do Gerador
de MP Externo
Sendo o implante endocárdico, conecta-se o polo distal ao
terminal negativo e o polo proximal ao terminal positivo do MP, mensurando
assim os limiares de comando e sensibilidade no gerador externo.
Limiar de comando é a menor quantidade de energia aplicada ao músculo
cardíaco, capas de provocar a sua despolarização. Como regra básica a programação
do limiar de comando do gerador externo é três vezes o limiar encontrado,
assegurando dessa forma, margem de segurança adequada sem realizar a
estimulação excessiva de energia.
Limiar de sensibilidade é o poder de captação, pelo
eletrodo, dos sinais cardíacos resultantes da despolarização. Como regra básica
o MP deverá ser mantido com sensibilidade igual ao dobro do valor encontrado,
garantindo dessa forma, boa margem de segurança.
Basicamente existem dois tipos de estimulação cardíaca
temporária, o MP Transcutâneo e o MP Transvenoso.
MP Provisório Transcutâneo
Realiza a estimulação elétrica artificial por meio de
eletrodos autoadesivos contendo gel condutor, que quando colados no tórax do
paciente, emite estimulação elétrica das células cardíacas e consequentemente a
contração do músculo cardíaco. Os eletrodos são colocados e/ou colados na
parede do tórax (anteroposterior, esterno-apical ou latero-lateral), estes
promovem a desfibrilação e a monitorização eletrocardiográfica.
As complicações que podem ocorrer no MP provisório
transcutâneo são irritação da pele e queimaduras, devido ao uso prolongado do
dispositivo, bem como dor e desconforto ocasionados pelo impulso elétrico e
consequente contração muscular esquelética.
Cuidados de Enfermagem
ao paciente com MP Provisório Transcutâneo
- · Avaliar nível de consciência do paciente;
- · Avaliar analgesia e desconforto do paciente;
- · Manter eletrodos do eletrocardiograma e monitorização contínua;
- · Higiene oral e corporal no leito do paciente;
- · Orientar, auxiliar e supervisionar o paciente a realizar suas necessidades fisiológicas do no leito;
- · Manter os eletrodos colados no tórax do paciente, evitando ao máximo molhar estes eletrodos.
- · Manter repouso absoluto no leito em todos os pacientes com MP provisório transcutâneo;
- · Puncionar e manter acesso venoso calibroso neste paciente;
- · Manter material de via aérea avançada próximo ao leito do paciente, bem como carrinho de emergência;
- · Realizar controle de sinais vitais;
- · Manter registro de procedimentos realizados e cuidados de enfermagem prescritos.
MP Provisório
Transvenoso
A estimulação cardíaca com MP transvenoso é realizada por
meio de eletrodos flexíveis, bipolares, que entram em contato direto com o
endocárdio, geralmente no ventrículo direito, onde os impulsos elétricos são
comandados por um gerador externo.
A passagem destes eletrodos é realizada por meio de punção
venosa central, podendo estas serem jugular interna, subclávia, femoral e
braquial. A introdução destes eletrodos, quando necessário são realizadas com
ajuda de um eletrocardiógrafo e/ou fluoroscopia.
A utilização do MP transvenoso se dá, quando o paciente não
responde as medidas iniciais de tratamento às bradiarritmias sintomáticas com
pulso através do tratamento medicamentoso ou por MP transcutâneo.
Sua utilização é segura, confiável e eficiente, não podendo
ultrapassar 15 dias de implante devido ao risco de infecções e septicemia.
Complicações com o MP
Provisório Transvenoso
O implante de MP Provisório Transvenoso pode ocasionar sérias
complicações e problemas aos pacientes, porém estes podem ser evitados de
acordo com o conhecimento e conduta da equipe responsável sobre o uso e
manutenção do gerador de MP e dos cabos de eletrodo. Dentre as complicações
mais que podem ocorrer, podemos citar:
- · Hemotórax;
- · Tromboflebite;
- · Hematoma local;
- · Estimulação diafragmática;
- · Perfuração miocárdica;
- · Deslocamento do cabo de eletrodo;
- · Infeção;
- · Arritmias ventriculares;
- · Desaparecimento da espícula do MP;
- · Perda do comando, ausente do desaparecimento da espícula do MP.
Cuidados de Enfermagem
ao paciente com MP Provisório Transvenoso
- · Avaliar nível de consciência do paciente;
- · Manter o paciente em repouso relativo;
- · Avaliar sinais vitais e frequência cardíaca apical e parâmetros do gerador de MP por período, avaliando se está em demanda ou comando;
- · Realizar curativo de forma asséptica no óstio de inserção do eletrodo transvenoso;
- · Realizar eletrocardiograma de controle diariamente;
- · Avaliar presença de estimulação frênica (estímulo abdominal);
- · Avaliar sinais e sintomas de infeção;
- · Manter acesso venoso pérvio;
- · Manter material de via aérea avançada próximo ao leito do paciente;
- · Manter acesso venoso calibroso pérvio;
- · Orientar o paciente quanto ao repouso e cuidados com os eletrodos e gerador de MP transvenoso;
- · Avaliar diariamente bateria do gerador de MP transvenoso, e caso seja necessário realizar a troca da bateria, manter o paciente monitorizado e sob a presença da equipe médica.
Cuidados com o Manuseio
do Gerador
- · Observar sempre o correto aterramento do aparelho, para evitar fugas de corrente pelo eletrodo do gerador de MP;
- · Não substituir baterias do gerador de MP em funcionamento, sem a utilização de luvas de procedimento;
- · Anotar a frequência predeterminada do gerador de MP;
- · Verificar diariamente a carga da bateria do gerador;
- · O enfermeiro deve solicitar avaliação do médico, sempre que houver presença de estimulação torácica ou diafragmática, que pode indicar sinais de aumento de sensibilidade e/ou perfuração cardíaca;
- · Avaliar três vezes ao dia os limiares de comando e sensibilidade, mantendo margens de segurança adequadas;
- · Caso o paciente necessite de desfibrilação, o gerador de MP deve ser desligado, e preferencialmente desconectar os cabos de eletrodos dos terminais, para evitar danos ao aparelho;
- · Manter o paciente em repouso relativo, tomando precaução de fixar de forma adequada o gerador próximo ao local de inserção do cabo de eletrodo;
- · Posicionar adequadamente o MP com o cabo de eletrodo curto, mas com folga, para evitar tração e possível deslocamento, e o gerador fixado ao corpo do paciente;
- · Atentar para alterações dos sinais vitais do paciente: controle da pressão arterial, da frequência cardíaca, do ritmo cardíaco, da frequência respiratória e da temperatura corporal;
- · Monitorização eletrocardiográfica ou eletrocardioscópica, para avaliação dos limiares de comando e sensibilidade e também para o diagnóstico precoce de complicações;
- · Avaliação cotidiana do MP Provisório Transvenoso, para então verificar se o paciente poderá retirar o MP provisório ou se terá que realizar o implante de um MP endocárdico definitivo;
- · Ao desligar um MP externo, deve-se diminuir gradativamente a frequência de estimulação, observando se o ritmo cardíaco do paciente. A interrupção abrupta da estimulação pode ser seguida de longo período de assistolia, determinando quadro de síncope ou até indução de arritmia grave.
Sistematização da
Assistência de Enfermagem
A Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) é uma
ferramenta de trabalho básica e ordenada na vida do Enfermeiro, orientada pela
ciência, a SAE colabora para avaliar e diagnosticar a saúde e necessidades de
cuidados do paciente, estabelecer prescrições de cuidado, praticar e avaliar a
sua efetividade em todos os aspectos de cuidados, desde os clientes de menor
comorbidade até os de alta complexidade. Logo a utilização das classificações
de Diagnósticos, Intervenções e Resultados de Enfermagem melhoram a
documentação de todo o processo de trabalho do Enfermeiro.
Na sala de emergência o Enfermeiro além de avaliar e
considerar todo o estado hemodinâmico do paciente, bem como todas as
funcionalidades e cuidados com o eletrodo e o gerador de MP provisório, este
deve manter o foco no cuidado individualizado do paciente e não de sua
patologia. O profissional de enfermagem representa papel fundamental na vida do
paciente após o implante, com o objetivo de identificar as necessidades de
cuidado como tranquilizar o paciente em situações de medo e ansiedade,
esclarecer dúvidas e orientar quanto ao autocuidado.
Cabe ainda ao Enfermeiro o gerenciamento dos sintomas apresentados
pelo paciente, devendo avaliar criteriosamente sua história clínica, os sinais
de baixo débito cardíaco: como pele fria, palidez, síncope, tontura, fadiga,
desconforto respiratório e palpitações, uma vez que estes são sinais
indicativos de perfusão inadequada ao padrão fisiológico.
Referências
- · OLIVEIRA, Denise Viana Rodrigues de Oliveira; AYOUB, Andrea Cotait, KOBAYASHI, Rika Miyahara; SIMONETTI, Sergio Henrique. Marca-passo – Competências Clínicas para Enfermeiros. Editora Atheneu, 1 Edição. Rio de Janeiro, 2017.
- · NANDA, Diagnósticos de Enfermagem da NANDA: Definições e Classificações 2017. 10 edição. Editora Artmed.
- · BULECHEK, Gloria M; BUTCHER, Howard K; DOCHTERMAN, Joanne; WAGNER, Cheryl M. NIC - Classificação Das Intervenções de Enfermagem - 6ª edição, editora Elsevier 2016.
- · MOORHEAD, Sue; JOHNSON, Marion, MAAS, Meridian L; SWANSON, Elizabeth. NOC, Classificação dos Resultados de Enfermagem. 5 edição, editora Elsevier, 2016
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