INTERVENÇÕES DE
ENFERMAGEM NA CETOACIDOSE DIABÉTICA
INTRODUÇÃO
A cetoacidose diabética (CAD) está entre as
complicações agudas mais graves do diabetes mellitus (DM), e apresenta um
índice significativo de morbimortalidade, portanto deve ser prontamente diagnosticada
e efetivamente tratada.
O nível normal de
glicose na corrente sangüínea varia entre 70 à 110 mg/dl. Na cetoacidose
diabética a glicemia é elevada entre 250 à 1000 mg/dl, além disso o pH
sangüíneo é diminuído (< 7,35).
A CAD é
caracterizada por hiperglicemia, acidose metabólica e cetonemia. A
hiperglicemia nesta circunstância é freqüente, entretanto não obrigatória. Pois
crianças pequenas ou parcialmente tratadas, assim como adolescentes grávidas,
podem apresentar CAD com níveis de glicemia quase normais o que chamamos de
cetoacidose euglicêmica.
ETIOLOGIA
A CAD é causada por deficiência relativa ou
absoluta de insulina e elevação do nível dos hormônios contra-regulatórios
(glucagon, catecolaminas, cortisol e hormônio do crescimento), com conseqüente
aumento da gliconeogênese, glicogenólise, alteração na utilização periférica da
glicose, lipólise e transformação dos ácidos graxos livres em corpos cetônicos.
FATORES
DESENCADEANTES
Não adesão ao tratamento do DM, infecção, uso
inadequado de insulina, alimentação incoerente a do paciente com DM, uso de
alguns imunossupressores, altas doses de glicocorticóides, trauma, pancreatite,
interrupção inapropriada de insulina com infusão contínua.
MANIFESTAÇÕES
CLÍNICAS
Polidpsia, fraqueza, poliúria, náuseas, vômitos,
desidratação, emagrecimento, hálito cetônico, febre associada à infecção,
turgor da pele diminuído, alteração do estado mental, hiperventilação
compensatória, respiração
de Kusmaull, mucosas e pele secas.
·
Respiração de Kussmaul: Respirações profundas
- hiperventilação na tentativa de diminuir a acidose.
PLANO DE
CUIDADOS – ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM
As principais
intervenções de enfermagem têm por objetivos impedir a cetogênese, corrigir a hiperglicemia,
a desidratação, os desequilíbrios eletrolítico e ácido-básico.
·
Lavar as mãos antes de
cada atividade de cuidado do paciente e após as mesmas, com o objetivo de
evitar o risco de infecção;
- Oferecer dieta para diabéticos e incentivar ingestão hídrica;
·
Monitorizar sinais
vitais a cada 15 min, até que a condição do paciente esteja estável. A seguir a
cada 1 hora. Comunicar ao médico em relação a: FC > 120 bpm ou PA < 90/60
ou redução > 20 mmHg a partir dos dados iniciais. Avaliar e registrar a freqüência e profundidade da respiração;
·
Se for instalado
cateter para monitorização de PVC e PAM, comunicar quando houver redução >
10 mmHg na PAM a partir dos dados iniciais e PVC < 2 mmHg;
·
Instalar e controlar
rigorosamente a hidratação EV, conforme prescrito. Ficar atento a sinais de
sobrecarga hídrica: distensão da veia jugular, dispnéia, crepitações (estertores),
PVC > 6 mmHg;
·
Se prescrito, instalar
e controlar as soluções de reposição de eletrólitos e bicarbonato;
·
Realizar glicemia
capilar de acordo com prescrição médica, de enfermagem ou protocolo de
insulina;
·
Instalar e controlar
rigorosamente a infusão contínua de insulina regular endovenosa em bomba de
infusão, prescrita pelo médico ou conforme procedimento de controle da glicemia;
·
Monitorizar a glicose
do sangue enquanto usar infusão de insulina. Comunicar ao médico, se a glicose
do sangue cair mais rápido do que 100 mg/dL/h, ou se cair para < 250 a 300 mg/dL;
·
Se a opção médica for
não utilizar infusão contínua de insulina endovenosa, a administração de
insulina regular deve ser feita por via intramuscular (IM) ou subcutânea (SC),
sob prescrição.
·
Avaliar sinais de
hipoglicemia como: sudorese, taquicardia, sonolência, desorientação.
·
Monitorizar Balanço
Hídrico. Observar estado hídrico, mucosa oral seca, redução no débito urinário
< 0,5ml/kg/h, comunicar alterações.
·
Monitorizar arritmias
cardíacas, inclusive distúrbio do ritmo e da condução.
·
Avaliar o nível de
consciência e o estado respiratório, em especial, desobstrução de vias aéreas,
a intervalos freqüentes. Manter material de intubação, ambu e máscara, além de
oxigênio suplementar, à cabeceira. Avisar o médico a respeito de mudança na
condição do paciente.
·
Evitar o uso de
procedimentos invasivos uma vez que o paciente com diabete corre maior risco de
infecção bacteriana. Trocar curativos de inserção do cateter central e trocar
os acessos periféricos, conforme a padronização institucional. Os cateteres
centrais devem ser retirados assim que possível.
·
Monitorizar sinais e
sintomas sistêmicos e localizados de infecção. Examinar os locais de inserção de
cateteres quanto a sinais de infecção localizada, como eritema, edema ou
drenagem purulenta. Documentar a presença de qualquer um desses indicadores e
consultar o médico, quando necessário.
·
Usar técnica asséptica
de forma criteriosa ao inserir ou manipular os cateteres.
·
O uso de cateter vesical
de demora é indicado apenas quando a monitorização do débito urinário for essencial,
devido ao risco aumentado de infecção.
·
Proporcionar adequada
higiene oral.
·
Proporcionar um bom
cuidado da pele, manter sua integridade. Investigar áreas de redução de
sensações nas extremidades. Usar colchão de alívio de pressão na cama para
ajudar a evitar agravo da pele.
·
Reduzir a
probabilidade de lesão por quedas, mantendo a cama na posição mais baixa, com
as grades erguidas, além de utilizar contenções, se necessário.
·
Para minimizar o risco
de aspiração elevar a cabeceira a um ângulo de 45 graus e inserir sonda
gástrica em pacientes comatosos, conforme prescrito.
ORIENTAÇÕES
PARA ALTA HOSPITALAR – PARA SEGUIMENTO NA ATENÇÃO
PRIMÁRIA
·
Oferecer instruções
com termos simples, incorporando o ensino do paciente às rotinas de cuidado diário
do mesmo.
·
Explicar a relação da
doença e o estresse.
·
Enfatizar a
importância da adesão a todo o tratamento de diabete, inclusive o planejamento
das refeições, o uso das medicações, a realização de exercícios físicos,
cuidados de higiene dos pés, e a constante monitorização da glicemia capilar.
·
Explicar as possíveis
conseqüências da omissão de insulina;
·
Realizar periodicamente
os exames necessários para acompanhamento da evolução da doença e do tratamento
proposto
·
Familiarizar o
paciente e os responsáveis no reconhecimento clínico de hipoglicemia e
hiperglicemia
·
Investir na abordagem
multidisciplinar da doença.
·
Referenciar o paciente
a uma Unidade Básica de Saúde ou ao especialista que fará a programação do
tratamento e continuidade do atendimento.
·
Tratar adequadamente
as comorbidades.
CONCLUSÃO
Uma assistência de enfermagem humanizada e de qualidade é de fundamental
importância para o tratamento do paciente com CAD, uma vez que esta complicação
do DM requer um tratamento rigoroso e complicado, pois este paciente necessita
de todo um suporte técnico, utilizando equipamentos de última geração e
procedimentos complexos da equipe de enfermagem e demais membros da equipe
multidisciplinar.
Portanto é necessário um constante aperfeiçoamento por parte dos
profissionais de assistência, uma vez que é alto o índice de pacientes com CAD,
e uma assistência adequada possibilita uma diminuição das complicações da
referida patologia.
REFERÊNCIAS
·
Hohl A, Bathazar APS. Projeto Diretrizes Diabetes Mellitus:
Cetoacidose – Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, 2005.
·
BRUNNER, Lillian S. Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgica
- 8ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan 1998.
·
Oliveira PEJ, Milech A, Zajdenverg L et al. Cetoacidose
Diabética em Adultos – Atualização de uma complicação antiga. Arq Bras
Endocrinol Metab. 2007; 51(9): 1434-47.
- KNOBEL, Elias. Condutas no paciente grave. v.1, 3ª ed., São Paulo: Atheneu 2006.
·
GROSSI, Sonia Aurora Alves. O manejo da cetoacidose em
pacientes com Diabetes Mellitus: subsídios para a prática clínica de
enfermagem. Ver Esc Enferm USP. 2006; 40(4): 582-6.
POR
·
CUNHA, Amarildo de
Souza. Enfermeiro pela Faculdade Pitágoras de Ipatinga/MG. Especializando em
Terapia Intensiva pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário