O
Enfermeiro Na Classificação de Risco
Um
novo modelo de atendimento
Recentemente, muitos dos serviços de
atendimento à urgência e emergência sofrem com o problema das superlotações e
grandes filas. Isto está relacionado, principalmente, ao aumento da violência
urbana, e a conseqüente procura por assistência devido a acometimentos simples,
que poderiam ter sido resolvidos na atenção primária. A isso, acrescentam-se
problemas da atenção primária relacionados à insuficiente estruturação desse
nível de atenção, por exemplo.
Portanto, o maior problema é a grande quantidade
de pessoas que disputam atendimento sem nenhum critério, a não ser a ordem de
chegada, que não determina, e, tampouco, considera a gravidade dos casos. Essa
não classificaçaõ favorece o agravo do quadro na própria fila, que, por vezes,
pode evoluir para o óbito devido ao não atendimento no tempo correto.
Perante isso, o Ministério da Saúde
procura alternativas para organizar o atendimento, bem como o fluxo, do
atendimento à saúde. A proposta é que cada serviço, em seu nível de
assistência, seja responsável apenas pelas atividades da sua competência. Para
isso, prevê-se estruturação dos sistemas de urgência e emergência e o
envolvimento com toda a rede de assistência (do pré-hospitalar ao hospitalar),
capacitando e responsabilizando cada componente a uma parcela da demanda de
urgência, respeitando a capacidade de resolução e os limites de complexidade de
cada componente da rede assistencial (BRASIL, 2002).
Desse modo, transforma-se o processo de
triagem, alternando até mesmo sua terminologia para acolhimento com
classificação de risco (ACCR). O ACCR utilizado como dispositivo
tecnoassistencial possibilita a reflexão e mudança nas maneiras de executar a
assistência, visto que questiona a clínica no trabalho em saúde, os modelos de
atenção e gestão e o acesso aos serviços.
Portanto, é necessária uma avaliação
além dos riscos, e da vulnerabilidade, atentando também aos graus de sofrimento
físico e psiquiátrico, pois a ausência de sinais físicos não determina a
ausência de gravidade no caso, como por exemplo: alguém que tenha ingerido
veneno e vá deambulando até a unidade apresentando como único sinal a angústia.
Assim, o ACCR tem como objetivo melhorar
o acesso dos usuários aos serviços de saúde, a fim de propiciar melhorias da
forma tradicional de entrada por filas e por ordem de chegada; as relações
entre profissionais de saúde e usuários no que se refere à forma de escutá-lo
em seus problemas e demandas; aperfeiçoar o trabalho em equipe com a integração
e complementaridade das atividades exercidas pelas categorias profissionais;
aumentar a responsabilização dos profissionais de saúde em relação aos usuários
e a elevação dos graus de vínculo e confiança entre eles; abordar o usuário
para além da doença e suas queixas; e pactuar com o usuário da resposta possível
à sua demanda, de acordo com a capacidade do serviço. (BRASIL, 2006)
Devemos salientar que o acolhimento não
é um espaço ou um local, mas uma postura ética; não pressupõe hora ou
profissional específico para fazê-lo, mas implica necessariamente o compartilhamento
de saberes, angústias e invenções. Já a classificação de risco, é uma atividade
realizada pelo profissional de enfermagem de nível superior, preferencialmente
com experiência em serviço de urgência, e após capacitação específica para a atividade
proposta. Portanto, ela deve ser realizada de forma coerente, respaldada e
fundamentada em princípios éticos e humanitários.
A Classificação de risco torna-se uma
ferramenta de organização, além de seu aspecto mais importante, a proposta de
outra ordem de atendimento, que não a ordem de chegada. Podemos, então,
destacar suas funções e benefícios:
- · Garante o atendimento imediato do usuário com grau de risco elevado;
- · Informa o paciente que não corre risco imediato, assim como a seus familiares, sobre o tempo provável de espera;
- · Promove o trabalho em equipe, por meio da avaliação contínua do processo;
- · Proporciona melhores condições de trabalho para os profissionais, pela discussão da ambiência e implantação do cuidado horizontalizado;
- · Aumenta a satisfação dos usuários e, principalmente,
- · Possibilita a investigação da pactuação e a construção de redes internas e externas de atendimento.
Reforça-se ainda que, a avaliação de
risco só será efetiva e contribuirá para melhorias na qualidade da assistência,
quando vinculada à pactuações internas (laboratório, enfermarias, centro
cirúrgicos) e externas (interação domiciliar, reinserção do usuário pós-alta),
estabelecimento claro e fixo de fluxos por grau de risco.
A enfermeira, no serviço de saúde, seja
de nível primário, secundário ou terciário, deve zelar por uma assistência de
qualidade. A partir de uma classificação realizada com precisão por parte do
enfermeiro, é possível organizar o serviço e mudar os modos de prestar
assistência, com vistas ao atendimento humanizado e a promoção de uma
assistência integral, de forma que cada profissional possua uma visão holística
do ser humano a ser atendido.
Resta-nos o desafio hoje relacionado à
padronização do processo de acolhimento com classificação de risco, por meio de
medidas uniformes em todo território nacional. Os hospitais brasileiros que
aderiram ao ACCR utilizaram protocolos internacionais e obtiveram bons
resultados, melhorando fluxo de atendimento, resolutividade, aceitação de tempo
de espera e diminuição de mortalidade.
Para isso, é importante enfatizar aqui
que, o protocolo utilizado deve incluir toda a equipe que atua na urgência:
enfermeiros, técnicos de enfermagem, médicos, psicólogos, assistentes sociais e
funcionários administrativos.
Um dos protocolos mais conhecidos e
utilizados no Brasil é o de Acolhimento com Classificação de Risco que
classifica a prioridade que o cliente demanda por meio de cores, que é uma ferramenta
de avaliação em emergência.
O
Protocolo mais utilizado é o de Manchester, um instrumento de apoio que visa à
identificação rápida e científica do doente de acordo com critérios clínicos
para determinar em que ordem o paciente será atendido, conforme a gravidade do
caso. Trata-se de um modelo em que diferentes enfermeiros obtêm os mesmo
resultados na análise do paciente, aumentando a agilidade e a segurança nos
serviços de urgência.
TABELA 1 - NÍVEIS DE
GRAVIDADE POR COR E TEMPO DE ATENDIMENTO
As cores utilizadas
possuem as seguintes definições:
Vermelho: O atendimento deve ser imediato. Doentes com situações
clínicas de maior risco, como por exemplo:
·
Politraumatizado grave
- Lesão grave de um ou mais órgãos e sistemas; Escala de Coma de Glasgow (ECG)
< 12.
·
Trauma Cranioencefálico
grave – ECG <12.
·
Estado mental alterado
ou em coma - ECG <12; história de uso de drogas.
·
Comprometimentos da
coluna vertebral.
·
Alterações de sinais
vitais em paciente sintomático.
Pulso > 140 ou < 45
PA diastólica <
130 mmHg
PA sistólica < 80
mmHg
FR >34 ou <10
Amarelo: Tempo de espera recomendado até 30 minutos. Casos urgentes,
como:
·
História de Convulsão
/pós-ictal–convulsão nas últimas 24 horas.
·
Dor torácica intensa.
·
Desmaios.
·
Alterações de sinais
vitais em paciente sintomático:
FC < 50 ou > 140
PA sistólica < 90
ou > 240
PA diastólica >
130
T < 35 ou. 40
Verde: Tempo de espera
recomendado até uma hora (60 minutos). Casos de menor gravidade, por exemplo:
·
Idade superior a 60
anos.
·
Gestantes com
complicações da gravidez.
·
Asma fora de crise.
·
Enxaqueca – pacientes
com diagnóstico anterior de enxaqueca.
Azul: Tempo de espera recomendado até duas horas (120 minutos).
Casos de menor gravidade, como:
·
Queixas crônicas sem
alterações agudas.
·
Procedimentos como:
curativos, trocas ou requisições de receitas médicas, avaliação de resultados
de exames, solicitações de atestados médicos.
De acordo com a Lei do
Exercício Profissional de Enfermagem, compete ao enfermeiro realizar a
Classificação de Risco, uma vez que a Lei n.º 7.498/86 incumbe privativamente
ao enfermeiro, a Consulta de Enfermagem e a realização de técnicas de maior
complexidade, que demandem conhecimentos científicos adequados, e a capacidade
de tomar decisões rápidas (NISHIO; FRANCO, 2011).
A seleção dos pacientes acontece a partir de uma observação
prévia, na qual um conjunto de sinais ou de sintomas é identificado para
atribuir uma cor ao paciente. A cor corresponde ao grau de prioridade clínica
no atendimento e a um tempo de espera recomendado. Com esse Protocolo Clínico
de classificação de risco por cores, os serviços de urgência atendem em
primeiro lugar os doentes mais graves e não necessariamente os que chegarem
antes (CORENPR, 2010).
REFERÊNCIAS
- · Toledo, AD. Acurácia de enfermeiros na classificação de risco em Unidade de Pronto Socorro de um Hospital Municipal de Belo Horizonte. Dissertação de Metrado. Pós Graduação em Enfermagem. Universidade Federal de Minas Gerais
- · Ministério da Saúde. Política Nacional de Humanização. Acolhimento com classificação de risco. Brasília, 2006. (Série Cartilhas da PNH).
- · Classificação de risco por cores: uma ferramenta de avaliação em emergência. Disponível em http://www.programaproficiencia.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=354:classificacao-de-risco-por-cores-uma-ferramenta-de-avaliacao-em-emergencia&catid=39:blog&Itemid=65.
- · NISHIO, E. A.; FRANCO, M. T. G. Modelo de Gestão em Enfermagem: qualidade assistencial e segurança do paciente. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
- · COREN PR. Conselho Regional de Enfermagem do Paraná. Protocolo de Manchester será utilizado por Enfermeiros em Curitiba. Disponível em: http://www.corenpr.org.br/noticias/2009/protocolo_manchester.html.
- · Acolhimento com Classificação de Risco. Um novo modelo para a assistência. Disponível em http://www.programaproficiencia.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=326:acolhimento-com-classificacao-de-risco-um-novo-modelo-para-a assistencia&catid=39:blog&Itemid=65
POR
CUNHA, Amarildo de Souza – Enfermeiro Graduado
pela Faculdade Pitágoras de Ipatinga/MG.
Olá Amarildo!
ResponderExcluirSou Kesley, Enfermeira do PS do HMC, acho que vai se lembrar de mim!
Gostaria de lhe parabenizar pelo texto. Fui convidada para ministrar um Curso sobre Classificação de Risco e Humanização da Assistencia Hospitalar no I Congresso de Bioética e Saúde da UnipacGV e, em meio aos meus estudos encontrei seu texto com muita qualidade e ótimos referenciais!
Aproveito para lhe convidar para participar deste congresso que acontecerá em Governador Valadares, na Unipac GV, nos dias 17 a 19 de maio. Se houver interesse faça contato comigo para fazermos sua inscrição...
Continue se dedicando desta forma à nossa profissão! Tenho certeza que você terá muito sucesso profissional!
Abraços!
Kesley Reis.
Obrigado Kesley.
ResponderExcluirLembro sim de você.
Fique a vontade em participar do blog.
Quanto ao Curso que você vai ministrar/participar, não poderei ir, pois nessas datas terei pós graduação.
Boa sorte.
Um abraço.